quarta-feira, 18 de junho de 2014

Pequeno tratado da Irmã Lúcia, sobre a natureza e recitação do Terço

Foto: Pequeno tratado da Irmã Lúcia, sobre a natureza e recitação do Terço

Taken from letters written by Sister Lucy

J.M.

Coimbra, Dec. 4, 1970

Dear Maria Teresa,
Pax Christi,

A nossa Madre recebeu a sua carta, e pede desculpa de não responder pessoalmente; mas não lhe é possível neste momento, em que está com tanto que fazer, por causa da próxima fundação do novo Carmelo de Braga. Por este motivo, entregou-me a carta, para que responda eu. É o que venho fazer.

A nossa Madre não pode dar a licença que a Maria Teresa deseja. Mas também não é necessária. Eu não devo nem posso pôr-me em evidência. Devo permanecer em silêncio, na oração e na penitência. É a maneira como melhor posso e devo auxiliar. É preciso que todo o apostolado tenha, como base, este fundamento; e esta é a parte que o Senhor escolheu para mim; orar e sacrificar-me pelos que lutam e trabalham na vinha do Senhor, e pela extensão do seu Reino.

É por este motivo que o meu nome não deve aparecer. Em vez dele, é muito mais eficaz que se sirva do Nome de Nossa Senhora, sugerindo o movimento como «Cumprimento» da Mensagem, apresentando como argumento a insistência com que

Nossa Senhora pediu e recomendou que se reze o Terço todos os dias, repetindo o mesmo em todas as Aparições, como que prevenindo-nos para que, em estes tempos de desorientação diabólica, nos não deixemos enganar por falsas doutrinas, diminuindo na elevação da nossa alma para Deus, por meio da oração.

Por certo que não é preciso que durante a celebração do Santo Sacrifício da Missa, aquele em que se deva rezar o Terço: Tempo deve haver para a Santa Missa, e tempo para rezar o Terço: Podemos e devemos tomar parte numa coisa, sem deixar a outra. O Terço é, para a maioria das almas que vivem no mundo, como que o pão espiritual de cada dia; e privá-las ou tirar-lhes esta oração, isto é, diminuir nos espíritos o apreço e a boa fé com que a rezavam, é, na parte espiritual, o mesmo ou mais ainda; tanto mais quanto a parte espiritual é superior à material. Digo: É como se na parte material privassem as pessoas do pão necessário à vida física.

Infelizmente, o povo, na sua maioria, em matéria religiosa, é ignorante e deixa-se arrastar por onde o levam. Daí, a grande responsabilidade de quem tem a seu cargo conduzi-lo; e todos nós somos condutores uns dos outros, porque todos temos o dever de ajudar-nos mutuamente, e andar pelo bom caminho.

Além do que tenho dito, será bom que à oração do Terço se dê um sentido mais real que aquele que se lhe tem dado, até aqui, de simples oração «mariana». Todas as orações que rezamos no Terço são orações que fazem parte da Sagrada Liturgia; e, mais que uma oração dirigida a Maria, é dirigida a Deus: — O Pai-Nosso foi-nos ensinado por Jesus Cristo, dizendo: «Rezai, pois, assim: Pai Nosso, que estais nos Céus...» — «Glória ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo ...» é o hino que cantaram os Anjos enviados por Deus para anunciar o nascimento do Seu Verbo, Deus feito homem. — A Ave-Maria, bem compreendida, não é menos uma oração dirigida a Deus: «Ave, Maria, gratia plena, Dominus tecum»: Eu Te saúdo, Maria, porque Contigo está o Senhor! Estas palavras são, com certeza, ditadas pelo Pai ao Anjo, quando O enviou à terra, para que com elas saudasse a Maria.

Sim! O Anjo veio dizer, a Maria, que Ela era cheia de Graça, não por Ela mas porque com Ela estava o Senhor! — «E Bendita sois Vós entre as mulheres, e Bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus»: Estas palavras, com que Isabel saudou a Maria, foram-Lhe ditadas pelo Espírito Santo, diz-nos o Evangelista: «Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, ... ficou cheia do Espírito Santo. Erguendo a voz, exclamou: Bendita és Tu entre as mulheres, e Bendito é o fruto de Teu ventre». Sim! Porque esse fruto é Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem!

Assim, esta saudação é um louvor a Deus: És Bendita entre as mulheres, porque é Bendito o fruto do Teu ventre; e porque Tu és a Mãe de Deus feito Homem, — em Ti adoramos a Deus como em primeiro Sacrário, no qual o Pai encerrou o Seu Verbo; como primeiro Altar, o Teu Regaço; primeira Custódia, os Teus braços, diante dos quais se ajoelharam os Anjos, os pastores e os reis, para adorar o Filho de Deus, feito Homem! E porque Tu, ó Maria, és o primeiro Templo vivo da Santíssima Trindade, onde mora o Pai, o Filho e o Espírito Santo, «o Espírito virá sobre Ti e a força do Altíssimo estenderá sobre Ti a Sua sombra. Por isso mesmo é que o Santo, que vai nascer, há-de chamar-se Filho de Deus»  (Lc. 1, 35). E já que és um Sacrário, uma Custódia, um Templo vivo, morada permanente da Santíssima Trindade, Mãe de Deus e Mãe nossa,  —«roga por nós, pobres pecadores, agora e na hora da nossa morte».

Quem poderá negar que isto é uma oração e um louvor dirigido a Deus?! Será mais que para dirigir a Deus os nossos louvores, as nossas adorações, as súplicas, nos ajoelhemos diante de altares de madeira, pedra ou metal, ou de custódias douradas, insensíveis, incapazes de rogar por nós?!

Certo é que São Paulo diz que há um só Medianeiro junto do Pai. Sim! Como Deus, há um só, que é Jesus Cristo. Mas o mesmo Apóstolo pede que roguem por ele e recomenda que roguemos uns pelos outros: Poderia, então, o Apóstolo não crer que a oração de Maria não fosse tão agradável a Deus, como a nossa?! É a desorientação diabólica que invade o mundo e engana as almas! É preciso fazer-lhe frente; e para isso pode servir-se do que aqui lhe digo. Mas como coisa sua, sem dizer o meu nome; como coisa que lhe sai ao correr da pena. E, na verdade, sua é, porque, na qualidade de membros que somos do Corpo Místico de Cristo, tudo é nosso, porque tudo é da Cabeça, Cristo Jesus.

E fico no meu lugar, rezando por si, por todos aqueles que consigo vão trabalhar, para que seja uma campanha que dê muita glória a Deus, leve muita luz e graça às almas, paz à Santa Igreja e ao mundo ensanguentado em guerras.

Talvez também fosse bom apresentar a campanha, não só como cumprimento da Mensagem, mas também como campanha de oração e penitência pela paz do Mundo, da Santa Igreja e de Portugal nas Províncias Ultramarinas. E que Portugal, que é tão devoto da Eucaristia e de Maria, seja o primeiro a reconhecer que a oração do Terço não é somente uma oração Mariana, mas também Eucarística. E, por isso, nada deve impedir que se possa rezar diante do Santíssimo Sacramento. Em prova disto está que o Santo Padre Pio XI havia concedido indulgência plenária a quem rezasse o Terço diante do Santíssimo; e recentemente foi de novo concedida a mesma indulgência por Sua Santidade Paulo VI.

É, pois, preciso rezar o Terço, nas Cidades, nas Vilas e nas Aldeias, pelas ruas, pelos caminhos, de viagem ou em casa, nas igrejas e capelas! É a oração acessível a todos, e que todos podem e devem rezar. Há muitos que diariamente não assistem à oração litúrgica da Santa Missa; Se não rezam o Terço, que oração fazem?! E, sem oração, quem se salvará ?! —«Vigiai e orai para não entrardes em tentação».

É preciso, pois, orar, e orar sempre. Isto é, que todas as nossas actividades e trabalhos sejam acompanhados de um grande espírito de oração, porque é na oração que a alma se encontra com Deus; e é nesse encontro que se recebe graça e força, ainda mesmo quando ela é acompanhada de distracções. Ela leva sempre às almas um aumento de Fé, ainda que não seja mais que a recordação momentânea dos mistérios da nossa Redenção, lembrando o Nascimento, Morte e Ressurreição do nosso Salvador; e Deus saberá descontar e perdoar o que toca à humana franqueza, ignorância e pouquidade.

Quanto à repetição das Ave-Marias, não é como querem fazer crer que seja uma coisa antiquanda. Todas as coisas que existem e foram criadas por Deus, se mantêm e conservam por meio da repetição, continuada sempre, dos mesmos actos. E ainda a ninguém se ocorreu chamar antiquado ao sol, lua, estrelas, aves e plantas, etc., porque giram, vivem e brotam sempre do mesmo modo! E são bem mais antigos que a reza do Terço! Para Deus, nada é antigo. — São João diz que o Bem-aventurados, no Céu, cantam um cântico novo, repetindo sempre; Santo, Santo é o Senhor, Deus dos Exércitos! É novo, porque, na luz de Deus, tudo aparece com novo brilho!
Um grande abraço da sempre em união de orações.

Irmã Lúcia 
i.c.d.

***

J.M. 
Coimbra, 29-5-1970
Querida Maria Teresa:

Pax Christi 

Respondo às suas cartas no dia do aniversário da Ordenação do Santo Padre. Hoje é tudo por Sua Santidade. Que Nossa Senhora seja a portadora das nossas pobres e humildes orações.
Agradeço as suas cartas e os recortes... Gostei muito de ver como já estão a recuar... Bendito seja Deus! E continuamos a rezar para que tudo se normalize.
A lista sobre o «cancro» é horrível! Como os partidários do demónio trabalham para o mal, e não têm medo de nada! Nem de ficar mal colocados, nem de perder! Andam sempre para diante, com ousadia destemível! E só nós havemos de acobardar-nos?! Acaso Deus pode menos que o demónio?! Ou temos nós menos Fé em Deus e no Seu poder?! — É preciso andar para diante sem medo e sem receio. Deus está connosco, e Ele há-de vencer.
Deus queira que a entrevista com o Sr. Arcebispo de Mitilene tenha corrido bem, e que Sua Ex.a não seja um dos medricas... Penso que o melhor seria fazerem as coisas com o conhecimento de Suas Ex.cias, mas sem que tomem responsabilidade, (como se não soubessem), isto é, para se evitar o inconveniente dos medos ... Depois, em vendo o êxito, então já podem declarar-se a tomar parte.

Claro que a parte secular e feminina pode iniciar muita coisa que a sua dignidade, em princípio, pode hesitar. Mas nós sabemos que Deus e Nossa Senhora está connosco, e, por isso, não temos medo. Caso encontre dificuldades, penso que podia dizer isto, ou apresentar o problema sob este ponto de vista: como se não soubessem e se tratasse simplesmente de iniciativa de mulheres. Também foi assim que se conseguiu iniciar a Peregrinação Mundial da Imagem Peregrina. Os princípios são sempre muito difíceis, por causa dos medos... Depois, estes desvanecem-se. Todos ajudam e tomam parte.

Quanto ao que me diz do Sacerdote que está em Fátima, penso também que não deve ter medo. Nós devemos pôr a nossa confiança em Deus e na protecção de Nossa Senhora. Nós somos apenas instrumentos muito fracos nas Suas Mãos, e de que Eles se servem para a Sua Glória; mas não deve o medo impedir-nos de servir para o que Eles quiserem.

Penso que não há-de ser nada difícil conseguir que o Santo Padre, na Televisão, reze o Terço com o Mundo. Depois de tudo bem organizado, já se vê. E se fosse em Fátima?! — Vamos trabalhar, e eu aqui, no meu convento, a rezar!

Um grande abraço da sempre dedicada e em união de orações.

Irmã Lúcia, i.c.d.

P.E. — Talvez que esse Sr. Padre, de quem me fala na sua carta, pudesse iniciar, na Rússia, a reza do Terço, escrevendo ao Patriarca de Moscovo.

***

J.M.J.T. 
Coimbra, 16-9-1970
Querida Madre Martins:

Pax Christi

Recebi a sua carta, que muito agradeço. Há muito que não recebia as suas notícias; e nem sabia bem como se encontrava de saúde, nem como tinha ficado depois da operação. Pelo que me diz, vejo que deveu ficar a sofrer bastante! É a penitência que o Senhor agora lhe pede; e estas, que Ele nos envia, são as mais custosas. Mas também são as que mais nos unem a Ele, que foi o Mártir das Dores.

Em também não tenho passado lá muito bem do coração, da vista, etc.; mas é preciso quem complete em si o que falta à Paixão de Cristo. É preciso que os Seus membros sejam um com Ele, pela dor física e pela angústia moral... Pobre Senhor, que nos salvou com tanto amor, e tão pouco compreendido é! Tão pouco amado! Tão mal servido! É doloroso ver tanta desorientação, e em tantas pessoas que ocupam lugares de responsabilidade!...

Temos nós, tanto quanto nos seja possível, que procurar reparar, por uma união cada vez mais íntima com o Senhor, identificar-nos com Ele, para que Ele seja, em nós, a luz do mundo mergulhado nas trevas do erro, da imoralidade e do orgulho. Faz-me pena ver o que me diz, do que também já por aí se passa!

... É que o demónio tem conseguido infiltrar o mal, com capa de bem, e andam cegos a guiar outros cegos, como nos diz o Senhor no seu Evangelho; e as almas vã-se deixando iludir.

De boa vontade me sacrifico, e ofereço a Deus a vida; pela paz da Sua Igreja, pelos sacerdotes e por todas as almas consagradas, sobretudo por aquelas que andam tão iludidas e tão transviadas! Pelos nossos Irmãos separados: Que Deus a todos dê luz e os traga ao bom caminho, — ao caminho da Verdade, que é Jesus Cristo.

Quanto ao que me diz da reza do Terço é uma grande pena! Porque a oração do Rosário ou Terço é, depois da Sagrada Liturgia Eucarística, a que mais nos une com Deus, pela riqueza das orações de que se compõe, todas elas vindas do Céu, ditadas pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo.

A Glória, que rezamos em todos os mistérios, foi ditada pelo Pai aos Anjos, quando os enviou a cantá-la junto do Seu Verbo recém-nascido, e é um hino à Trindade.

O Pai-Nosso foi-nos ditado pelo Filho, e é uma oração dirigida ao Pai.

A Ave-Maria é, toda ela, impregnada de sentido Trinitário e Eucarístico: As primeiras foram ditadas pelo Pai ao Anjo, quando O enviou a anunciar o mistério da Encarnação do Verbo.

Ave-Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco»: Sois cheia de graça porque em Ti reside a fonte da mesma Graça. É pela Tua união com a Santíssima Trindade, que Tu és cheia de graça.

Movida pelo Espírito Santo, disse Santa Isabel: «Bendita sois Vós, entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus»: Se sois bendita, é porque é bendito o fruto do vosso ventre, Jesus.

A Igreja, também movida pelo Espírito Santo, acrescentou: «Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte»: Isto é também uma oração, dirigida a Deus através de Maria: Porque sois Mãe de Deus, roga por nós.

É oração trinitária, sim, porque Maria foi o primeiro Templo vivo da Santíssima Trindade: «O Espírito Santo descerá sobre Ti, — O Pai Te cobrirá com a Sua sombra, — E o Filho, que de Ti nascer, será chamado o Filho do Altíssimo».

Maria é o primeiro Sacrário vivo onde o Pai encerrou o Seu Verbo. O Seu Coração Imaculado é a primeira custódia que O guardou. O Seu regaço e os Seus braços foram o primeiro altar e o primeiro trono sobre o qual o Filho de Deus, feito homem, foi adorado. — Aí O adoraram os Anjos, os Pastores e os sábios da terra. Maria é a primeira que tomou em Suas mãos, puras e imaculadas, o Filho de Deus; o conduziu ao Templo, para oferecê-Lo ao Pai, como vítima pela salvação do mundo.

Assim, a oração do Terço é, depois da Sagrada Liturgia Eucarística, a que mais nos introduz no mistério íntimo da Santíssima Trindade e da Eucaristia; a que mais nos traz ao espírito os mistérios da Fé, da Esperança e da Caridade.

Ela é o pão espiritual das almas; Quem não ora, definha e morre. É na oração que nos encontramos com Deus, e é nesse encontro que Ele nos comunica a Fé, a Esperança e a Caridade: virtudes estas sem as quais não nos salvaremos.

O Terço é a oração dos pobres e dos ricos, dos sábios e dos ignorantes; Tirar às almas esta devoção, é tirar-lhes o pão espiritual de cada dia. O Terço é a que sustenta a pequenina chama da Fé, que ainda de todo se não apagou em muitas consciências. Mesmo para aquelas almas que rezam sem meditar, o simples acto de tomar o Terço para rezar é já um lembrarem-se de Deus, do Sobrenatural. A simples recordação dos mistérios, em cada dezena, é mais um raio de luz a sustentar, nas almas, a mecha que ainda fumega.
Por isso o Demónio lhe tem feito tanta guerra! E o pior é que tem conseguido iludir e enganar almas cheias de responsabilidade, pelo lugar que ocupam!
... São cegos a guiar outros cegos!... E querem apoiar-se no Concílio! E não vêm que o Sagrado Concílio ordenou que se conservem todas as práticas que no decorrer dos anos se vêm praticando em honra da Imaculada Virgem Mãe de Deus; e que a oração do santo Rosário, ou Terço é uma das principais a que, em face do ordenado pelo Sagrada Concílio e pelo Sumo Pontífice, estamos obrigados; isto é, devemos conservar. Eu tenho uma grande esperança: que não virá longe o dia em que a oração do santo Rosário e Terço sejam declaradas oração litúrgica. Sim, porque toda ela faz parte da Sagrada Liturgia Eucarística. Oremos, trabalhemos, sacrifiquemo-nos e confiemos que —

«Por Fim, O Meu Imaculado Coração Triunfará»!
Adeus, minha querida Irmã. Ainda cá está a imagem do Menino Jesus, que pertence à igreja do Santo Nome de Deus. Quando quiser, pode vir buscá-la.
Um grande abraço para a querida Madre Cunha Matos e para si, da sempre em união de orações.
Não conheço o livro de que me fala.

Irmã Lúcia i.c.d.

***

(Dois excertos de duas cartas)

...«O que alguns desorientados têm propalado contra a reza do Terço é falso.           
Mais antiga que a reza do Terço é a luz do sol, e eles não querem deixar de beneficiar do seu brilho e calor; mais antigos são os salmos, e eles, assim como as orações que constituem o Terço fazem parte da Sagrada Liturgia.

A repetição das Ave-Maria, Pai-Nosso e Glória, é a cadeia que nos eleva até Deus e a Ele nos prende, dando-nos a participação da Sua Vida divina em nós, — como a repetição dos pedacinhos de pão, de que nos alimentamos, nos sustenta a vida natural; e não chamos a isso coisa antiquada!

A desorientação é diabólica! Não se deixe enganar» (29-12-1969).

... « ... Que esse seu apostolado, assim como o de todos os nossos Irmãos e Irmãs, Missionários, seja para as almas a luz da Fé, que as guie pelo caminho da Verdade, da Esperança e do Amor! — Aquela luz de que nos fala o Senhor, no Seu Evangelho; «Vós sois a luz do mundo e o sal da terra».

É preciso, para isto, não se deixar arrastar pelas doutrinas dos desorientados contestadores... A campanha é diabólica. Precisamos fazer-lhe frente, sem meter-nos em conflitos: — Dizer, às almas, que agora, mais do que nunca, precisamos de orar por nós e pelos que são contra nós!

Precisamos de rezar o Terço todos os dias. É a oração que Nossa Senhora mais recomendou, como que prevenindo-nos para estes dias de campanha diabólica em contra! Sabe o demónio que é pela oração que havemos de nos salvar; e arma-lhe a campanha em contra, para nos perder. Agora que vai começar o mês de Maio, reze com o povo o Terço todos os dias. Não tenha receio de expor o Santíssimo e rezar na Sua presença o Terço.

É falso o que dizem, de que não é litúrgico: As orações do Terço, todas elas fazem parte da Santa Liturgia; e, se não desagradam a Deus, quando as rezamos celebrando o Santo Sacrifício, também Lhe não desagradam se as rezamos na Sua presença, quando está exposto à nossa adoração. Pelo contrário, é a oração que mais Lhe agrada, porque é aquela com que melhor O louvamos.

«Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo», — é a oração ditada pelo Pai aos Anjos, para eles cantarem junto do Presépio do Verbo feito carne: «Glória a Deus...» «Pai Nosso, que estais no Céu...»: a oração ensinada por Jesus Cristo à Humanidade; «Quando quiserdes orar, dizei: Pai Nosso, que estais no Céu...». E a Ave-Maria que é senão um louvor e uma prece dirigida a Deus? — «Ave-Maria, cheia de graça o Senhor é convosco»: Como se disséssemos; Eu te saúdo, Maria, não por Ti mas pelo Senhor que está contigo, pelo Senhor que em Ti habita e Te escolheu para Santuário vivo onde encerrou o Seu Verbo, Deus e Homem verdadeiro! Ajoelho-me na Tua presença, porque Tu és o primeiro Templo vivo habitado pela Santíssima Trindade! Bendito é o fruto do Teu ventre, porque esse Fruto é Jesus, Filho de Deus.  Em Ti O adoro, como no Sacrário; louvo, como na Hóstia, de que Tu és a Custódia! E já que Tu és uma custódia viva, Mãe de Deus e Mãe nossa, roga por nós, pobres pecadores, agora e na hora da nossa morte.

Que oração mais Eucarística poderemos nós rezar, se lhe damos o verdadeiro sentido? Não é rezar à toa, nem repetir em vão as mesmas palavras. O Evangelista diz-nos que Jesus Cristo, no Jardim das Oliveiras, orou ao Pai durante três horas, repetindo sempre as mesmas palavras; «Pai! Se é possível, afasta de mim este cálix; mas não se faça a Minha vontade, mas a Tua».

Ora, durante a reza do Terço, não estamos três horas repetindo as mesmas palavras. E, afinal, Deus, Criador de tudo quanto existe, ordenou que todos os seres criados se conservem mediate uma repetição contínua dos mesmos actos, movimentos e sons: Os astros giram sempre do mesmo modo; a terra em volta do mesmo eixo; o sol incide a sua luz e os seus raios do mesmo modo; as plantas brotam, dão flores e frutos, cada uma segundo a sua espécie, todos os anos do mesmo modo, etc.; e assim todos os mais seres que existem. Nós mesmos vivemos, respiramos e aspiramos, repetindo sempre o mesmo funcionamento orgânico. E assim tudo o mais. E a ninguém se lhe ocorreu ainda dizer que é uma maneira de viver antiquada! Porque então o há-de ser a oração que Deus nos ensinou e tanto nos tem recomendado?!

É fácil de ver aqui o ardil do demónio e dos seus sequazes, que querem afastar as almas de Deus, afastando-as da oração. É na oração que as almas se encontram com Deus, e é nesse encontro que Deus se dá às almas, comunicando-lhes as suas graças, as suas luzes e os seus dons. Por isso lhe fazem tanta guerra! Não se deixe enganar. Elucide as almas que lhe estão confiadas, e reze com elas o Terço, todos os dias; reze-o na igreja, nas ruas, nos caminhos e nas praças. Se lhe for possível, percorra as ruas, rezando e cantando o Terço com o povo; e termine, na igreja, dando a bênção com o Santíssimo. Isto, em espírito de oração e penitência, pedindo a paz para a Igreja, para as nossas Províncias Ultramarinas e para o mundo.

Estou certa de que, se fizer um apelo assim nesse sentido, as almas seguem-no e vão de boa vontade, porque as ovelhas seguem o seu pastor, quando ele as sabe guiar e conduzir pelo bom caminho.

P.S. — Suponho que tem conhecimento de que, ainda há pouco, o Santo Padre concedeu indulgência plenária a todos que rezarem o Terço diante do Santíssimo.

Irmã Lúcia do Coração Imaculado (4-4-1970)

Irmã Lúcia fala com o Padre Fuentes sobre o Terço

Com respeito ao Santo Rosário, Irmã Lúcia, falando com o Padre Fuentes na entrevista (autentica) de 26 de Dezembro de 1957, disse:

“Olhe, Senhor Padre, a Santíssima Virgem, nestes últimos tempos em que vivemos, deu uma nova eficácia à oração do Santo Rosário. De tal maneira que agora não há problema, por mais difícil que seja, seja temporal ou, sobretudo, espiritual – que se refira à vida pessoal de cada um de nós; ou à vida das nossas famílias, sejam as famílias do mundo sejam as Comunidades Religiosas; ou à vida dos povos e das nações –, não há problema, repito, por mais difícil que seja, que não possamos resolver agora com a oração do Santo Rosário.

“Com o Santo Rosário nos salvaremos, nos santificaremos, consolaremos a Nosso Senhor e obteremos a salvação de muitas almas.” 

Pequeno tratado da Irmã Lúcia, sobre a natureza e recitação do Terço

Taken from letters written by Sister Lucy

J.M.

Coimbra, Dec. 4, 1970

Dear Maria Teresa,
Pax Christi,

A nossa Madre recebeu a sua carta, e pede desculpa de não responder pessoalmente; mas não lhe é possível neste momento, em que está com tanto que fazer, por causa da próxima fundação do novo Carmelo de Braga. Por este motivo, entregou-me a carta, para que responda eu. É o que venho fazer.

A nossa Madre não pode dar a licença que a Maria Teresa deseja. Mas também não é necessária. Eu não devo nem posso pôr-me em evidência. Devo permanecer em silêncio, na oração e na penitência. É a maneira como melhor posso e devo auxiliar. É preciso que todo o apostolado tenha, como base, este fundamento; e esta é a parte que o Senhor escolheu para mim; orar e sacrificar-me pelos que lutam e trabalham na vinha do Senhor, e pela extensão do seu Reino.

É por este motivo que o meu nome não deve aparecer. Em vez dele, é muito mais eficaz que se sirva do Nome de Nossa Senhora, sugerindo o movimento como «Cumprimento» da Mensagem, apresentando como argumento a insistência com que

Nossa Senhora pediu e recomendou que se reze o Terço todos os dias, repetindo o mesmo em todas as Aparições, como que prevenindo-nos para que, em estes tempos de desorientação diabólica, nos não deixemos enganar por falsas doutrinas, diminuindo na elevação da nossa alma para Deus, por meio da oração.

Por certo que não é preciso que durante a celebração do Santo Sacrifício da Missa, aquele em que se deva rezar o Terço: Tempo deve haver para a Santa Missa, e tempo para rezar o Terço: Podemos e devemos tomar parte numa coisa, sem deixar a outra. O Terço é, para a maioria das almas que vivem no mundo, como que o pão espiritual de cada dia; e privá-las ou tirar-lhes esta oração, isto é, diminuir nos espíritos o apreço e a boa fé com que a rezavam, é, na parte espiritual, o mesmo ou mais ainda; tanto mais quanto a parte espiritual é superior à material. Digo: É como se na parte material privassem as pessoas do pão necessário à vida física.

Infelizmente, o povo, na sua maioria, em matéria religiosa, é ignorante e deixa-se arrastar por onde o levam. Daí, a grande responsabilidade de quem tem a seu cargo conduzi-lo; e todos nós somos condutores uns dos outros, porque todos temos o dever de ajudar-nos mutuamente, e andar pelo bom caminho.

Além do que tenho dito, será bom que à oração do Terço se dê um sentido mais real que aquele que se lhe tem dado, até aqui, de simples oração «mariana». Todas as orações que rezamos no Terço são orações que fazem parte da Sagrada Liturgia; e, mais que uma oração dirigida a Maria, é dirigida a Deus: — O Pai-Nosso foi-nos ensinado por Jesus Cristo, dizendo: «Rezai, pois, assim: Pai Nosso, que estais nos Céus...» — «Glória ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo ...» é o hino que cantaram os Anjos enviados por Deus para anunciar o nascimento do Seu Verbo, Deus feito homem. — A Ave-Maria, bem compreendida, não é menos uma oração dirigida a Deus: «Ave, Maria, gratia plena, Dominus tecum»: Eu Te saúdo, Maria, porque Contigo está o Senhor! Estas palavras são, com certeza, ditadas pelo Pai ao Anjo, quando O enviou à terra, para que com elas saudasse a Maria.

Sim! O Anjo veio dizer, a Maria, que Ela era cheia de Graça, não por Ela mas porque com Ela estava o Senhor! — «E Bendita sois Vós entre as mulheres, e Bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus»: Estas palavras, com que Isabel saudou a Maria, foram-Lhe ditadas pelo Espírito Santo, diz-nos o Evangelista: «Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, ... ficou cheia do Espírito Santo. Erguendo a voz, exclamou: Bendita és Tu entre as mulheres, e Bendito é o fruto de Teu ventre». Sim! Porque esse fruto é Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem!

Assim, esta saudação é um louvor a Deus: És Bendita entre as mulheres, porque é Bendito o fruto do Teu ventre; e porque Tu és a Mãe de Deus feito Homem, — em Ti adoramos a Deus como em primeiro Sacrário, no qual o Pai encerrou o Seu Verbo; como primeiro Altar, o Teu Regaço; primeira Custódia, os Teus braços, diante dos quais se ajoelharam os Anjos, os pastores e os reis, para adorar o Filho de Deus, feito Homem! E porque Tu, ó Maria, és o primeiro Templo vivo da Santíssima Trindade, onde mora o Pai, o Filho e o Espírito Santo, «o Espírito virá sobre Ti e a força do Altíssimo estenderá sobre Ti a Sua sombra. Por isso mesmo é que o Santo, que vai nascer, há-de chamar-se Filho de Deus» (Lc. 1, 35). E já que és um Sacrário, uma Custódia, um Templo vivo, morada permanente da Santíssima Trindade, Mãe de Deus e Mãe nossa, —«roga por nós, pobres pecadores, agora e na hora da nossa morte».

Quem poderá negar que isto é uma oração e um louvor dirigido a Deus?! Será mais que para dirigir a Deus os nossos louvores, as nossas adorações, as súplicas, nos ajoelhemos diante de altares de madeira, pedra ou metal, ou de custódias douradas, insensíveis, incapazes de rogar por nós?!

Certo é que São Paulo diz que há um só Medianeiro junto do Pai. Sim! Como Deus, há um só, que é Jesus Cristo. Mas o mesmo Apóstolo pede que roguem por ele e recomenda que roguemos uns pelos outros: Poderia, então, o Apóstolo não crer que a oração de Maria não fosse tão agradável a Deus, como a nossa?! É a desorientação diabólica que invade o mundo e engana as almas! É preciso fazer-lhe frente; e para isso pode servir-se do que aqui lhe digo. Mas como coisa sua, sem dizer o meu nome; como coisa que lhe sai ao correr da pena. E, na verdade, sua é, porque, na qualidade de membros que somos do Corpo Místico de Cristo, tudo é nosso, porque tudo é da Cabeça, Cristo Jesus.

E fico no meu lugar, rezando por si, por todos aqueles que consigo vão trabalhar, para que seja uma campanha que dê muita glória a Deus, leve muita luz e graça às almas, paz à Santa Igreja e ao mundo ensanguentado em guerras.

Talvez também fosse bom apresentar a campanha, não só como cumprimento da Mensagem, mas também como campanha de oração e penitência pela paz do Mundo, da Santa Igreja e de Portugal nas Províncias Ultramarinas. E que Portugal, que é tão devoto da Eucaristia e de Maria, seja o primeiro a reconhecer que a oração do Terço não é somente uma oração Mariana, mas também Eucarística. E, por isso, nada deve impedir que se possa rezar diante do Santíssimo Sacramento. Em prova disto está que o Santo Padre Pio XI havia concedido indulgência plenária a quem rezasse o Terço diante do Santíssimo; e recentemente foi de novo concedida a mesma indulgência por Sua Santidade Paulo VI.

É, pois, preciso rezar o Terço, nas Cidades, nas Vilas e nas Aldeias, pelas ruas, pelos caminhos, de viagem ou em casa, nas igrejas e capelas! É a oração acessível a todos, e que todos podem e devem rezar. Há muitos que diariamente não assistem à oração litúrgica da Santa Missa; Se não rezam o Terço, que oração fazem?! E, sem oração, quem se salvará ?! —«Vigiai e orai para não entrardes em tentação».

É preciso, pois, orar, e orar sempre. Isto é, que todas as nossas actividades e trabalhos sejam acompanhados de um grande espírito de oração, porque é na oração que a alma se encontra com Deus; e é nesse encontro que se recebe graça e força, ainda mesmo quando ela é acompanhada de distracções. Ela leva sempre às almas um aumento de Fé, ainda que não seja mais que a recordação momentânea dos mistérios da nossa Redenção, lembrando o Nascimento, Morte e Ressurreição do nosso Salvador; e Deus saberá descontar e perdoar o que toca à humana franqueza, ignorância e pouquidade.

Quanto à repetição das Ave-Marias, não é como querem fazer crer que seja uma coisa antiquanda. Todas as coisas que existem e foram criadas por Deus, se mantêm e conservam por meio da repetição, continuada sempre, dos mesmos actos. E ainda a ninguém se ocorreu chamar antiquado ao sol, lua, estrelas, aves e plantas, etc., porque giram, vivem e brotam sempre do mesmo modo! E são bem mais antigos que a reza do Terço! Para Deus, nada é antigo. — São João diz que o Bem-aventurados, no Céu, cantam um cântico novo, repetindo sempre; Santo, Santo é o Senhor, Deus dos Exércitos! É novo, porque, na luz de Deus, tudo aparece com novo brilho!
Um grande abraço da sempre em união de orações.

Irmã Lúcia
i.c.d.

***

J.M.
Coimbra, 29-5-1970
Querida Maria Teresa:

Pax Christi

Respondo às suas cartas no dia do aniversário da Ordenação do Santo Padre. Hoje é tudo por Sua Santidade. Que Nossa Senhora seja a portadora das nossas pobres e humildes orações.
Agradeço as suas cartas e os recortes... Gostei muito de ver como já estão a recuar... Bendito seja Deus! E continuamos a rezar para que tudo se normalize.
A lista sobre o «cancro» é horrível! Como os partidários do demónio trabalham para o mal, e não têm medo de nada! Nem de ficar mal colocados, nem de perder! Andam sempre para diante, com ousadia destemível! E só nós havemos de acobardar-nos?! Acaso Deus pode menos que o demónio?! Ou temos nós menos Fé em Deus e no Seu poder?! — É preciso andar para diante sem medo e sem receio. Deus está connosco, e Ele há-de vencer.
Deus queira que a entrevista com o Sr. Arcebispo de Mitilene tenha corrido bem, e que Sua Ex.a não seja um dos medricas... Penso que o melhor seria fazerem as coisas com o conhecimento de Suas Ex.cias, mas sem que tomem responsabilidade, (como se não soubessem), isto é, para se evitar o inconveniente dos medos ... Depois, em vendo o êxito, então já podem declarar-se a tomar parte.

Claro que a parte secular e feminina pode iniciar muita coisa que a sua dignidade, em princípio, pode hesitar. Mas nós sabemos que Deus e Nossa Senhora está connosco, e, por isso, não temos medo. Caso encontre dificuldades, penso que podia dizer isto, ou apresentar o problema sob este ponto de vista: como se não soubessem e se tratasse simplesmente de iniciativa de mulheres. Também foi assim que se conseguiu iniciar a Peregrinação Mundial da Imagem Peregrina. Os princípios são sempre muito difíceis, por causa dos medos... Depois, estes desvanecem-se. Todos ajudam e tomam parte.

Quanto ao que me diz do Sacerdote que está em Fátima, penso também que não deve ter medo. Nós devemos pôr a nossa confiança em Deus e na protecção de Nossa Senhora. Nós somos apenas instrumentos muito fracos nas Suas Mãos, e de que Eles se servem para a Sua Glória; mas não deve o medo impedir-nos de servir para o que Eles quiserem.

Penso que não há-de ser nada difícil conseguir que o Santo Padre, na Televisão, reze o Terço com o Mundo. Depois de tudo bem organizado, já se vê. E se fosse em Fátima?! — Vamos trabalhar, e eu aqui, no meu convento, a rezar!

Um grande abraço da sempre dedicada e em união de orações.

Irmã Lúcia, i.c.d.

P.E. — Talvez que esse Sr. Padre, de quem me fala na sua carta, pudesse iniciar, na Rússia, a reza do Terço, escrevendo ao Patriarca de Moscovo.

***

J.M.J.T.
Coimbra, 16-9-1970
Querida Madre Martins:

Pax Christi

Recebi a sua carta, que muito agradeço. Há muito que não recebia as suas notícias; e nem sabia bem como se encontrava de saúde, nem como tinha ficado depois da operação. Pelo que me diz, vejo que deveu ficar a sofrer bastante! É a penitência que o Senhor agora lhe pede; e estas, que Ele nos envia, são as mais custosas. Mas também são as que mais nos unem a Ele, que foi o Mártir das Dores.

Em também não tenho passado lá muito bem do coração, da vista, etc.; mas é preciso quem complete em si o que falta à Paixão de Cristo. É preciso que os Seus membros sejam um com Ele, pela dor física e pela angústia moral... Pobre Senhor, que nos salvou com tanto amor, e tão pouco compreendido é! Tão pouco amado! Tão mal servido! É doloroso ver tanta desorientação, e em tantas pessoas que ocupam lugares de responsabilidade!...

Temos nós, tanto quanto nos seja possível, que procurar reparar, por uma união cada vez mais íntima com o Senhor, identificar-nos com Ele, para que Ele seja, em nós, a luz do mundo mergulhado nas trevas do erro, da imoralidade e do orgulho. Faz-me pena ver o que me diz, do que também já por aí se passa!

... É que o demónio tem conseguido infiltrar o mal, com capa de bem, e andam cegos a guiar outros cegos, como nos diz o Senhor no seu Evangelho; e as almas vã-se deixando iludir.

De boa vontade me sacrifico, e ofereço a Deus a vida; pela paz da Sua Igreja, pelos sacerdotes e por todas as almas consagradas, sobretudo por aquelas que andam tão iludidas e tão transviadas! Pelos nossos Irmãos separados: Que Deus a todos dê luz e os traga ao bom caminho, — ao caminho da Verdade, que é Jesus Cristo.

Quanto ao que me diz da reza do Terço é uma grande pena! Porque a oração do Rosário ou Terço é, depois da Sagrada Liturgia Eucarística, a que mais nos une com Deus, pela riqueza das orações de que se compõe, todas elas vindas do Céu, ditadas pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo.

A Glória, que rezamos em todos os mistérios, foi ditada pelo Pai aos Anjos, quando os enviou a cantá-la junto do Seu Verbo recém-nascido, e é um hino à Trindade.

O Pai-Nosso foi-nos ditado pelo Filho, e é uma oração dirigida ao Pai.

A Ave-Maria é, toda ela, impregnada de sentido Trinitário e Eucarístico: As primeiras foram ditadas pelo Pai ao Anjo, quando O enviou a anunciar o mistério da Encarnação do Verbo.

Ave-Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco»: Sois cheia de graça porque em Ti reside a fonte da mesma Graça. É pela Tua união com a Santíssima Trindade, que Tu és cheia de graça.

Movida pelo Espírito Santo, disse Santa Isabel: «Bendita sois Vós, entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus»: Se sois bendita, é porque é bendito o fruto do vosso ventre, Jesus.

A Igreja, também movida pelo Espírito Santo, acrescentou: «Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte»: Isto é também uma oração, dirigida a Deus através de Maria: Porque sois Mãe de Deus, roga por nós.

É oração trinitária, sim, porque Maria foi o primeiro Templo vivo da Santíssima Trindade: «O Espírito Santo descerá sobre Ti, — O Pai Te cobrirá com a Sua sombra, — E o Filho, que de Ti nascer, será chamado o Filho do Altíssimo».

Maria é o primeiro Sacrário vivo onde o Pai encerrou o Seu Verbo. O Seu Coração Imaculado é a primeira custódia que O guardou. O Seu regaço e os Seus braços foram o primeiro altar e o primeiro trono sobre o qual o Filho de Deus, feito homem, foi adorado. — Aí O adoraram os Anjos, os Pastores e os sábios da terra. Maria é a primeira que tomou em Suas mãos, puras e imaculadas, o Filho de Deus; o conduziu ao Templo, para oferecê-Lo ao Pai, como vítima pela salvação do mundo.

Assim, a oração do Terço é, depois da Sagrada Liturgia Eucarística, a que mais nos introduz no mistério íntimo da Santíssima Trindade e da Eucaristia; a que mais nos traz ao espírito os mistérios da Fé, da Esperança e da Caridade.

Ela é o pão espiritual das almas; Quem não ora, definha e morre. É na oração que nos encontramos com Deus, e é nesse encontro que Ele nos comunica a Fé, a Esperança e a Caridade: virtudes estas sem as quais não nos salvaremos.

O Terço é a oração dos pobres e dos ricos, dos sábios e dos ignorantes; Tirar às almas esta devoção, é tirar-lhes o pão espiritual de cada dia. O Terço é a que sustenta a pequenina chama da Fé, que ainda de todo se não apagou em muitas consciências. Mesmo para aquelas almas que rezam sem meditar, o simples acto de tomar o Terço para rezar é já um lembrarem-se de Deus, do Sobrenatural. A simples recordação dos mistérios, em cada dezena, é mais um raio de luz a sustentar, nas almas, a mecha que ainda fumega.
Por isso o Demónio lhe tem feito tanta guerra! E o pior é que tem conseguido iludir e enganar almas cheias de responsabilidade, pelo lugar que ocupam!
... São cegos a guiar outros cegos!... E querem apoiar-se no Concílio! E não vêm que o Sagrado Concílio ordenou que se conservem todas as práticas que no decorrer dos anos se vêm praticando em honra da Imaculada Virgem Mãe de Deus; e que a oração do santo Rosário, ou Terço é uma das principais a que, em face do ordenado pelo Sagrada Concílio e pelo Sumo Pontífice, estamos obrigados; isto é, devemos conservar. Eu tenho uma grande esperança: que não virá longe o dia em que a oração do santo Rosário e Terço sejam declaradas oração litúrgica. Sim, porque toda ela faz parte da Sagrada Liturgia Eucarística. Oremos, trabalhemos, sacrifiquemo-nos e confiemos que —

«Por Fim, O Meu Imaculado Coração Triunfará»!
Adeus, minha querida Irmã. Ainda cá está a imagem do Menino Jesus, que pertence à igreja do Santo Nome de Deus. Quando quiser, pode vir buscá-la.
Um grande abraço para a querida Madre Cunha Matos e para si, da sempre em união de orações.
Não conheço o livro de que me fala.

Irmã Lúcia i.c.d.

***

(Dois excertos de duas cartas)

...«O que alguns desorientados têm propalado contra a reza do Terço é falso.
Mais antiga que a reza do Terço é a luz do sol, e eles não querem deixar de beneficiar do seu brilho e calor; mais antigos são os salmos, e eles, assim como as orações que constituem o Terço fazem parte da Sagrada Liturgia.

A repetição das Ave-Maria, Pai-Nosso e Glória, é a cadeia que nos eleva até Deus e a Ele nos prende, dando-nos a participação da Sua Vida divina em nós, — como a repetição dos pedacinhos de pão, de que nos alimentamos, nos sustenta a vida natural; e não chamos a isso coisa antiquada!

A desorientação é diabólica! Não se deixe enganar» (29-12-1969).

... « ... Que esse seu apostolado, assim como o de todos os nossos Irmãos e Irmãs, Missionários, seja para as almas a luz da Fé, que as guie pelo caminho da Verdade, da Esperança e do Amor! — Aquela luz de que nos fala o Senhor, no Seu Evangelho; «Vós sois a luz do mundo e o sal da terra».

É preciso, para isto, não se deixar arrastar pelas doutrinas dos desorientados contestadores... A campanha é diabólica. Precisamos fazer-lhe frente, sem meter-nos em conflitos: — Dizer, às almas, que agora, mais do que nunca, precisamos de orar por nós e pelos que são contra nós!

Precisamos de rezar o Terço todos os dias. É a oração que Nossa Senhora mais recomendou, como que prevenindo-nos para estes dias de campanha diabólica em contra! Sabe o demónio que é pela oração que havemos de nos salvar; e arma-lhe a campanha em contra, para nos perder. Agora que vai começar o mês de Maio, reze com o povo o Terço todos os dias. Não tenha receio de expor o Santíssimo e rezar na Sua presença o Terço.

É falso o que dizem, de que não é litúrgico: As orações do Terço, todas elas fazem parte da Santa Liturgia; e, se não desagradam a Deus, quando as rezamos celebrando o Santo Sacrifício, também Lhe não desagradam se as rezamos na Sua presença, quando está exposto à nossa adoração. Pelo contrário, é a oração que mais Lhe agrada, porque é aquela com que melhor O louvamos.

«Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo», — é a oração ditada pelo Pai aos Anjos, para eles cantarem junto do Presépio do Verbo feito carne: «Glória a Deus...» «Pai Nosso, que estais no Céu...»: a oração ensinada por Jesus Cristo à Humanidade; «Quando quiserdes orar, dizei: Pai Nosso, que estais no Céu...». E a Ave-Maria que é senão um louvor e uma prece dirigida a Deus? — «Ave-Maria, cheia de graça o Senhor é convosco»: Como se disséssemos; Eu te saúdo, Maria, não por Ti mas pelo Senhor que está contigo, pelo Senhor que em Ti habita e Te escolheu para Santuário vivo onde encerrou o Seu Verbo, Deus e Homem verdadeiro! Ajoelho-me na Tua presença, porque Tu és o primeiro Templo vivo habitado pela Santíssima Trindade! Bendito é o fruto do Teu ventre, porque esse Fruto é Jesus, Filho de Deus. Em Ti O adoro, como no Sacrário; louvo, como na Hóstia, de que Tu és a Custódia! E já que Tu és uma custódia viva, Mãe de Deus e Mãe nossa, roga por nós, pobres pecadores, agora e na hora da nossa morte.

Que oração mais Eucarística poderemos nós rezar, se lhe damos o verdadeiro sentido? Não é rezar à toa, nem repetir em vão as mesmas palavras. O Evangelista diz-nos que Jesus Cristo, no Jardim das Oliveiras, orou ao Pai durante três horas, repetindo sempre as mesmas palavras; «Pai! Se é possível, afasta de mim este cálix; mas não se faça a Minha vontade, mas a Tua».

Ora, durante a reza do Terço, não estamos três horas repetindo as mesmas palavras. E, afinal, Deus, Criador de tudo quanto existe, ordenou que todos os seres criados se conservem mediate uma repetição contínua dos mesmos actos, movimentos e sons: Os astros giram sempre do mesmo modo; a terra em volta do mesmo eixo; o sol incide a sua luz e os seus raios do mesmo modo; as plantas brotam, dão flores e frutos, cada uma segundo a sua espécie, todos os anos do mesmo modo, etc.; e assim todos os mais seres que existem. Nós mesmos vivemos, respiramos e aspiramos, repetindo sempre o mesmo funcionamento orgânico. E assim tudo o mais. E a ninguém se lhe ocorreu ainda dizer que é uma maneira de viver antiquada! Porque então o há-de ser a oração que Deus nos ensinou e tanto nos tem recomendado?!

É fácil de ver aqui o ardil do demónio e dos seus sequazes, que querem afastar as almas de Deus, afastando-as da oração. É na oração que as almas se encontram com Deus, e é nesse encontro que Deus se dá às almas, comunicando-lhes as suas graças, as suas luzes e os seus dons. Por isso lhe fazem tanta guerra! Não se deixe enganar. Elucide as almas que lhe estão confiadas, e reze com elas o Terço, todos os dias; reze-o na igreja, nas ruas, nos caminhos e nas praças. Se lhe for possível, percorra as ruas, rezando e cantando o Terço com o povo; e termine, na igreja, dando a bênção com o Santíssimo. Isto, em espírito de oração e penitência, pedindo a paz para a Igreja, para as nossas Províncias Ultramarinas e para o mundo.

Estou certa de que, se fizer um apelo assim nesse sentido, as almas seguem-no e vão de boa vontade, porque as ovelhas seguem o seu pastor, quando ele as sabe guiar e conduzir pelo bom caminho.

P.S. — Suponho que tem conhecimento de que, ainda há pouco, o Santo Padre concedeu indulgência plenária a todos que rezarem o Terço diante do Santíssimo.

Irmã Lúcia do Coração Imaculado (4-4-1970)

Irmã Lúcia fala com o Padre Fuentes sobre o Terço

Com respeito ao Santo Rosário, Irmã Lúcia, falando com o Padre Fuentes na entrevista (autentica) de 26 de Dezembro de 1957, disse:

“Olhe, Senhor Padre, a Santíssima Virgem, nestes últimos tempos em que vivemos, deu uma nova eficácia à oração do Santo Rosário. De tal maneira que agora não há problema, por mais difícil que seja, seja temporal ou, sobretudo, espiritual – que se refira à vida pessoal de cada um de nós; ou à vida das nossas famílias, sejam as famílias do mundo sejam as Comunidades Religiosas; ou à vida dos povos e das nações –, não há problema, repito, por mais difícil que seja, que não possamos resolver agora com a oração do Santo Rosário.

“Com o Santo Rosário nos salvaremos, nos santificaremos, consolaremos a Nosso Senhor e obteremos a salvação de muitas almas.”

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