A Alma Gloriosa de Maria - 2
II. ALMA DO PAI ETERNO
Um dos mais belos
ensinamentos que nos trouxe Jesus Cristo a esta terra, foi o da paternidade
divina a nosso respeito. Para os antigos, Deus era soberano, era juiz. O Divino
Mestre no-Lo mostrou como nosso Pai. E ninguém, melhor do que Maria, compreendeu
esta sublime doutrina, ninguém melhor do que ela penetrou no sentido profundíssimo
desta paternidade.
Eis por que
exclamamos: alma do Pai Eterno! Pois ela soube, melhor do que ninguém, dar a
Deus este nome terníssimo de Pai. E como filha amantíssima, ela viveu durante a
vida inteira. Filha que serve, filha que obedece, filha que ama.
Nós podemos imaginar,
de algum modo, que sentimentos de respeito, de adoração, de amor teria a Virgem
Beatíssima para com Aquele que era seu Pai e Pai de quem, por um mistério
insondável, seria Filho seu. E com que extremos de amor amava o Pai Eterno aquela
que seria Mãe de seu Unigênito. Com que liberalidade lhe ornava a alma! Foi
neste amor recíproco e forte de Pai e de filha que se desenvolveu e cresceu a
alma gloriosa de Maria. Daí a sua obediência filial desde a sua conceição
prodigiosa até à sua morte bem-aventurada, obediência que, pela sua perfeição,
se transformava continuamente em oblação e amor.
“À voz paterna de
Deus — escreve Santo Afonso de Ligório — a alma da Virgem se liquefazia; e
semelhante a um metal derretido, estava sempre disposta a tomar todas as formas
que Ele lhe quisesse dar”. E como filha que, conhecendo o amor de seu pai,
confia nele cegamente, assim Maria confiava cegamente na Providencia divina.
Descansava nos braços de seu Pai, quer no recolhimento do templo, quer aceitando
a maternidade, quer fugindo para o Egito, quer acompanhando o Filho ao Calvário.
Em todas as circunstâncias, nos dias alegres e nos dias tristes, era a Filha
amorosa e confiante, que se deixa guiar pela mão paterna de Deus. São Francisco
de Sales conta que, andando ele, certo dia, por uma estrada, saiu-lhe ao
encontro uma velhinha que em lágrimas lhe dizia: sr. Bispo, ensinai-me a rezar!
— Como, filha?! És
tão velha já e não sabes rezar ainda?!
— É que, sr. Bispo,
quando começo a rezar o Padre Nosso e me lembro de que Deus é meu Pai, Pai de
uma criaturinha tão miserável como eu sou, ah! sr. Bispo, não sei, princípio a
chorar e não posso ir adiante, e fico sempre com a oração por terminar.. .
Mas si esta velhinha
assim falava, que diria a Virgem Santa ao lembrar-se da paternidade divina. Mistérios,
que só a vida futura no-los revelará...
Nós
somos também filhos de Deus. Deus é nosso bom Pai! Mas quão pouco nos
lembramos desta verdade! Eis por que é tão fria e tão convencional a
nossa devoção. Se nos
lembrássemos sempre de que temos um Pai no céu que vela sobre nós e que
só
deseja o nosso bem porque muito nos ama, que confiança e paz nasceriam
em nossas
almas! Como viveríamos felizes sob sua mão paterna e como se
transformaria a
nossa vida de oração... que obediência
filial, que prontidão, que amor! Então diríamos com o P. Faber: “se
trabalho
ou sofro é debaixo das vistas do bom Pai do céu que me encoraja e
conforta; se
me divirto, o seu paternal sorriso incita a minha alegria”.
Na linda capela das
Irmãs da Divina Providência, em Florianópolis, está gravada, em grandes letras,
uma frase consoladora: “A tua Providência, ó Pai, governa todas as coisas!” —
Feliz de quem lê esta mesma frase, com sentimento filial, em todos os
acontecimentos da vida, pois ela está gravada, também, no grandioso templo
deste mundo...
MARIA SSma., fazei
que, cada vez mais, compreendamos que Deus é nosso bom Pai e que, cada vez
mais, vivamos segundo esta verdade suavíssima. Assim seja!
__________Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição
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